Ouvindo-os, e interrogando-os

E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas

E o menino crescia, e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele. Ora, todos os anos iam seus pais a Jerusalém à festa da páscoa; E, tendo Ele já doze anos, subiram à Jerusalém, segundo o costume do dia da festa. E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o soube José, nem sua mãe. Pensando, porém, eles que viria de companhia pelo caminho, andaram caminho de um dia, e procuravam-no entre os parentes e conhecidos; E, como o não encontrassem, voltaram a Jerusalém em busca dele. E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os. E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas. E quando o viram, maravilharam-se, e disse-lhe sua mãe: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos. E ele lhes disse: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai? E eles não compreenderam as palavras que lhes dizia. E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava no seu coração todas estas coisas. E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens.

Lucas 2:40-52 (Leia o capítulo inteiro AQUI)

Karl Marx segundo Eric Voegelin


Marx, só se for o Groucho
Na raiz da idéia marxista está uma doença espiritual, a revolta gnóstica de quem se fecha à realidade transcendente. A incapacidade espiritual aliada à vontade mundana de poder provoca o misticismo revolucionário. A proibição das questões metafísicas acerca do fundamento do ser: "Será possível negar Deus e manter a razão?" destrói a ordem da alma. Mas a par desta impotência espiritual há a vitalidade de um intelecto que desenvolve uma especulação fechada. As Teses sobre Feuerbach mostram que o homem marxista não quer ser uma criatura. Rejeita as tensões da existência que apontam para o mistério da criação. Quer ver o mundo na perspectiva da coincidentia oppositorum, a posição de Deus. Cria um fluxo de existência em que os opostos se transformam uns nos outros. O mundo fechado em que os sujeitos são objectos e os objectos actividades, é talvez o melhor feitiço jamais criado por quem queria ser divino. Temos de levar a sério este dado para compreender a força e a consistência intelectual desta revolta anti-teista."

Eric Voegelin

A cultura brasileira e os megalomaníacos chupins

Narciso (1594-1596), por Caravaggio

Um país precisa de alta cultura e de cultura popular. Para se preservar como nação e perseverar como povo, ambas as formas de manifestação cultural são absolutamente necessárias. Quando uma destas espécies de conhecimento deixa de existir, surge um vácuo que não pode ser preenchido pela outra espécie. Cria-se então um simulacro para ocupar o espaço vazio e, desde então, perde-se o parâmetro comparativo e perde-se o critério analítico.
No Brasil não existe alta cultura há décadas. Nossos antepassados não foram substituídos à altura e o seu vácuo foi preenchido pelo pseudo-intelectual, uma entidade que pode se manifestar como um artista popular acima da média, um revolucionário erudito que leu seis livros ou ainda como o repetidor profissional, o tipo que compõe a maioria e que Lênin gostava de chamar de idiota útil.
Para piorar essa equação, durante o Governo Militar a censura contribuiu para que os falantes falassem menos. Esta dieta poupou os brasileiros de ouvir muita bobagem (Reinaldo Azevedo explica muito melhor AQUI e AQUI) e isso iludiu muita gente, inclusive este que vos escreve.
Duas ausências, portanto, determinaram a nossa má sorte: a ausência dos verdadeiros intelectuais, que foram morrendo ou envelhecendo; e a ausência das tolices dos pseudo-intelectuais. Neste panorama, foi fácil para o Brasil pensar que estava diante de gênios-santos quando na verdade eram mentes medianas e de moral duvidosa. O problema é que eles acreditaram que eram santos e passaram a exigir culto. E receberam através da fama, da idolatria, dos discos de ouro, dos preços dos ingressos... Hoje o culto exige Leis de Incentivo.
Com o fim da censura e a chegada da Internet muita coisa mudou. A inépcia intelectual, a cultura de almanaque, as incoerências e contradições ficaram evidentes. Mentiras sobre Cuba, União Soviética, China e outras ditaduras sangrentas cantadas em prosa e verso por nossos Iluministas, quando desmascaradas, revelaram ignorância e/ou projetos ideológicos por parte de nossos santos-gênios. E este é apenas um exemplo...
Acostumados aos cachês milionários e aos convites para opinar sobre tudo e sobre todos, nossos protótipos de sábios revoltam-se diante da menor indignação. Sua megalomania foi alimentada por décadas de subcultura e agora se sentem ofendidos quando o público rejeita suas obras, ou melhor, rejeita pagar por elas.
Os chiliques são comuns. Ao menor sinal de desaprovação, a versão tupiniquim do intelectual-orgânico de Gramsci reage furiosamente feito moleque mimado porque acredita pertencer a uma casta privilegiada, que merece ser sustentada por todas as outras. Mesmo as camadas mais miseráveis da sociedade devem fazer um esforço para sustentar a casta dos iluminados, formada pelos pseudo-intelectuais e pelos artistas estatizados.
Toda essa história com o Blog do Milhão serve de exemplo. Os defensores da mamata não apenas pensam que o povo é obrigado a financiar os projetos dos ilustres, eles também acreditam que aqueles que não aprovam sua nobre arte são fascistas.
Dá pra discutir com esses chupins?


O politicamente correto e os idiotas


Utilizar a linguagem como arma psicológica de dominação não é uma idéia nova. Goebbels substituiu algumas palavras e eliminou outras que incomodavam o projeto nazista. Antes, na União Soviética, quando Hitler ainda sonhava ser artista, Lênin transformou o significado de algumas palavras e proibiu outras tantas. Gramsci – que aprendeu com Marx - também ensinou a destruir a linguagem como forma de implantação de “uma nova ordem” social e cultural. E Maquiavel ensinou que o Príncipe deve, mais do que utilizar as palavras de maneira conveniente, convencer seu povo a usá-las conforme a sua conveniência.
O que estes crápulas sabiam é que quando a linguagem declina, a capacidade de compreensão da realidade diminui na mesma intensidade. Quem não compreende os fatos não pode avaliar, não pode comparar, não pode reagir. Mas pode – e será! – manipulado.
Essa onda do politicamente correto não é espontânea, não é “moderna” e não é bacana. É uma idéia satânica criada nos anos 70 e aperfeiçoada nas décadas seguintes por influentes acadêmicos de universidades americanas ligadas aos grupos globalistas.  Seu objetivo é destruir a capacidade cognitiva impondo regras morais contrárias às regras que regem a linguagem e a comunicação das pessoas. Esta técnica psicológica já estava nos estudos de Pavlov e foi aperfeiçoada em diversos experimentos controlados por programas governamentais como o MK Ultra ou por organismos privados como o Tavistock Institute desde os anos 40 e pelo menos até a década de 1960. Os russos e chineses também estudaram bastante esse assunto e suas ditaduras usaram muitas destas técnicas.
Comprovada sua velhice e a má-fé que a originou, passemos então à sua estupidez. Como funciona a destruição da linguagem pelo “politicamente correto”? Em que consiste, de fato, esse troço?
Consiste, na esmagadora maioria das vezes, em substituir uma palavra por uma expressão “não-significante”, vazia, ou por uma palavra que possui outro significado. Afro-descendente não é negro.  A Charlize Theron é afro-descendente e é mais loira que a Xuxa. Só aí já dá para perceber como é falha essa substituição.
O politicamente correto toma a figura de linguagem como fato. O eufemismo como descrição objetiva. Seus defensores acreditam na idéia de que excluir uma palavra pode eliminar um problema, uma estupidez tão absurda que só uma burrice coletiva sem precedentes pode explicar.
Esse patrulhamento na linguagem se enraizou na nossa cultura, na imprensa e até na literatura. Gerou uma nova forma de censura, muito pior, subliminar, rasteira, que só fortalece a hipocrisia, a falsidade, o puxa-saquismo.
Seguir essa onda idiota, que se replica como vírus, demonstra insegurança, necessidade de aprovação e incapacidade intelectual. Além de confundir o intelecto e limitar a imaginação e o raciocínio, o maldito "politicamente correto" ainda traz um problema maior, de ordem moral: obriga a mentir!
Você está vendo um gordo; sabe que é um gordo; gordo, no dicionário, quer dizer exatamente aquilo que você está vendo, mas para não desagradar os patrulheiros da estupidez, você mente: “horizontalmente avantajado”.
Um exemplo mais sério: quando as palavras que indicam objetos “não-sensíveis” são esquecidas ou substituídas, os conceitos que elas representam vão para o poço do esquecimento já na próxima geração. Conceitos como saudade, misericórdia, compaixão podem desaparecer da vida cotidiana das pessoas por séculos, para depois serem restauradas após uma convulsão causada pela repressão de instintos naturais.  E isto é apenas um dos males dessa doença que infesta toda sociedade ocidental.
Eu vejo a burrice contemporânea, que já é histórica, como conseqüência da destruição da linguagem, um resultado que prova a eficácia de um plano diabólico.

Escrever - Antonin-Gilbert Sertillanges

Esse trecho foi retirado do livro A Vida Intelectual e pertence ao capítulo VIII, que trata do Trabalho Criador. O livro é de 1920 e trata-se de uma aula de preparação para uma vida de estudos da alta cultura. Mais que um manual, é também o testemunho de uma vida dedicada ao conhecimento e à busca pela sabedoria. Com muita percepção, experiência e didática, é um guia perfeito para quem se aventura pelo tortuoso, mas prazeroso caminho do estudo autodidata. Antonin-Gilbert Sertillanges, mais conhecido como A.D. Sertillanges é um padre francês que nasceu em 1863 e morreu em 1948. Discípulo de São Tomás de Aquino e, portanto, admirador também de Aristóteles. Um gênio que deveria ser lido por todos.


***

Chegou o momento de realizar. Não podemos passar a vida só a aprender e a preparar. Além de que, aprender e preparar exigem uma dose de preparação: para encontrar um caminho é preciso enveredar por ele. A vida decorre em círculo. Órgão, que se exerce, cresce e fortifica-se; órgão fortificado exerce-se mais vigorosamente. É preciso escrever ao longo da vida intelectual. Escrevemos primeiramente para nós, para ver claro nos nossos casos, para determinar melhor os pensamentos, para suster e avivar a atenção que depressa esmorece se não for instigada pela ação, para estimular as pesquisas necessárias para levar a cabo a produção, para reanimar o esforço que se cansaria não vendo os resultados, enfim para formar o estilo  e adquirir um valor que completa todos os outros valores: a arte de escrever.
Escrevei e publicai, desde que juízes competentes vos julguem capazes disso e desde que vos sintais aptos para voar. O pássaro sabe muito bem quando há-de lançar-se no espaço; melhor do que ele o sabe a mãe; apoiado em vós e numa prudente maternidade espiritual, voai logo que puderdes. O contacto com o público obriga o escritor a constante trabalho de aperfeiçoamento; os louvores merecidos animam-no; as críticas fiscalizam-no; ser-lhe-á, por assim dizer, imposto o progresso, em vez da estagnação que pode resultar do perpétuo silêncio. A paternidade espiritual é sementeira de bens. Toda obra é manancial.
O P. Gratry insiste muito na eficácia da escrita. Quer que se medite sempre com a pena na mão e que a hora pura da madrugada seja consagrada a este contacto do espírito consigo próprio. Devem tomar-se em consideração as disposições pessoais; mas é certo que, para a maior parte, a pena, que corre, desempenha o papel do treinador nos jogos desportivos. Falar, é ouvir a alma e, nela a verdade; falar solitária e silenciosamente por meio de escrita, é ouvir-se e sentir a verdade com a frescura de sensação dum homem matinal que ausculta a natureza logo ao despontar do dia.
Em todas as coisas, é preciso começar: “ o começo é mais que metade duma coisa” , disse Aristóteles. Quem não produz, habitua-se à passividade; o medo de orgulho – porque o orgulho também gera o medo – ou a timidez aumentam mais e mais; recuamos, cansamo-nos de esperar, tornamo-nos improdutivos.
A arte de escrever, dissemos, exige a longa e precoce aplicação que paulatinamente se converte em hábito mental e constitui o que se chama o estilo. O meu “estilo” , a minha “pena” , é o instrumento espiritual de que me sirvo para me dizer e dizer a outrem o que ouso da verdade eterna; é qualidade do meu ser, vinco interior, disposição do cérebro animado, sou eu envolvido de certo modo. “O estilo é o homem” .
O estilo forma-se, escrevendo; o mutismo diminui a personalidade. Se quereis ser alguém, intelectualmente, precisais de saber pensar alto, pensar explicitamente, isto é, formar, dentro e fora de vós, o vosso verbo.  Chegou a ocasião de dizer em breves palavras o que deve ser o estilo para corresponder aos fins sugeridos aqui ao intelectual. Seria prudente não escrever, para ousar dizer como se escreve. A humildade não oferece dificuldade, quando diante de Pascal, La Fontaine, Bossuet, Montaigne, se sofreu a influência dum estilo superior. Pelo menos ficamos conhecendo o ideal a que visamos e não alcançamos. Podem-se explicar as qualidades do estilo em tantos artigos quantos se quiser; tudo, porém, creio eu, se resume em três palavras, verdade, individualidade, simplicidade, a não ser que se prefira sintetizar nesta única frase: escrever verdade. O estilo é verdadeiro quando corresponde a uma necessidade do pensamento e quando se mantém em contacto íntimo com as coisas. O discurso é ato de vida: não deve representar um corte na vida. É o que sucede quando caímos no artificial no convencional; Bergson diria no tout fait. Escrever por um lado, e por outro viver vida espontânea e sincera, é ofender o verbo e a harmoniosa unidade humana. 
O “ discurso de circunstância”  é o tipo das coisas que se dizem porque é preciso dizê-las, das coisas que só se pensam literariamente, gastando com elas aquela eloqüência de que a verdadeira eloqüência zomba. Por isso o discurso de circunstância muito freqüentemente não passa de discurso de ocasião. Pode acontecer que seja genial, e temos exemplos de sobra em Demóstenes e Bossuet; mas só o é, se a circunstância extrai do nosso íntimo o que de lá brotaria igualmente por si, o que se prende com as opiniões pessoais, com o objeto das meditações habituais.
A virtude da palavra, falada ou escrita, é a abnegação e a retidão: abnegação que afasta a personalidade, quando se trata de intercâmbio entre a verdade que fala dentro e a alma que escuta: retidão que expõe sinceramente o que foi revelado na inspiração e não lhe acrescenta palavras inúteis. “ Olha para o teu coração e escreve” , diz Sidney. Quem assim escreve, sem orgulho nem artifício, como para si só, fala, de fato, para a humanidade, se é que possui o talento de pronunciar uma palavra verídica, na qual a humanidade se possa reconhecer como sua inspiradora. A vida reconhece a vida. Se me contento com entregar ao próximo um pedaço de papel impresso, talvez o próximo lance um olhar de curiosidade, mas depressa se desfará dele; se, porém, sou árvore que oferece folhas e frutos suculentos, se me dou com plenitude, então convencerei e, como Péricles, deixarei o dardo cravado nas almas. Para obedecer às leis do pensamento tenho de me mostrar perto das coisas ou, antes, no íntimo delas, porque pensar é conceber o que é, e escrever verdade, ou por outra escrever de acordo com o pensamento, é revelar o que é, e não enfiar frases. Por isso o segredo de escrever consiste em colocar-se ardentemente diante das coisas, até que elas vos falem e determinem os termos que as devem exprimir.
O discurso deve corresponder à verdade da vida. O ouvinte é homem; logo o discursador não deve ser sombra. O ouvinte mostra-nos uma alma que quer ser curada ou iluminada: não lhe propineis só palavras. Enquanto desenrolais períodos, olhai para fora e para dentro de vós e procurai sentir a correspondência entre a vossa personalidade e a de quem vos escuta. A verdade do estilo afasta o molde. Chamo molde a uma verdade antiga, a uma fórmula que passou para o uso comum, a um lote de expressões outrora novas e que já o não são por terem perdido o contacto com a realidade donde nasceram, por flutuarem no ar, vãos ouropéis que tomam o lugar do autêntico ouro, o lugar de transcrição direta e imediata da idéia. Como observa Paulo Valéry, o automatismo gasta as línguas. Para viver, acrescenta o mesmo autor, temos de utilizar sempre a sintaxe “ em plena consciência” , aplicando-nos a articular com vigilância todos os elementos, evitando certos efeitos que espontaneamente se ingerem esperando a vez de se fazerem valer. Semelhante pretensão é o motivo por que devemos apartar esses parasitas, esses intrusos, esses maçadores. O estilo superior consiste em descobrir os laços essenciais entre os elementos do pensamento, e na arte de os exprimir com exclusão de qualquer balbucio acessório. “ Escrever como o orvalho se deposita sobre a folha e as estalactites se suspendem do teto das grutas, Como a carne deriva do sangue, como a fibra lenhosa se forma da seiva” (1): eis o ideal. A pessoa orgulhosa e perturbadora estará ausente de semelhante discurso; mas a personalidade da expressão só ganhará em nitidez e relevo. O que sai de mim sem mim é necessariamente semelhante a mim. O meu estilo é o meu rosto. O rosto tira da espécie os seus caracteres gerais, mas ostenta individualidade empolgante e incomunicável; é único em toda a terra e em todos os séculos; daí vem, em parte, o interesse do retrato. Ora o nosso espírito é decerto muito mais original do que o rosto; mas ocultamo-lo por detrás das generalidades adquiridas, das frases tradicionais, das alianças verbais que só representam velhos hábitos em vez de representarem amor. Mostrá-lo tal qual é, apoiando-nos nas aquisições que a todos pertencem, mas sem nos esquecermos de nós, suscitará interesse inesgotável, será a arte.
O estilo, que convém a um pensamento, é como o corpo que pertence à alma, como a planta que provém da semente: tem arquitetura peculiar. Imitar é alienar o pensamento; escrever sem caráter é declará-lo vago ou pueril. Nunca se deve escrever “à maneira de...” , nem mesmo à maneira de si próprio. Para quê ter maneira? A verdade não a tem afirma-se sempre nova. O som da verdade tem de ser pessoal a cada um dos instrumentos. “ Os homens verdadeiramente superiores, escreve Júlio Lachelier, foram todos originais, embora o não tivessem pretendido nem se tivessem julgado tais; pelo contrário, procurando fazer das suas palavras e dos seus atos a expressão adequada da razão, encontraram eles a forma particular de a exprimir.”  Todo o instrumento tem timbre. Se a maneira é afetação, a originalidade verdadeira é fato de verdade que, em vez de enfraquecer, reforça a impressão que o leitor, por seu turno, receberá. Não proscrevemos o sentimento pessoal que tudo renova e glorifica, mas sim a vontade própria contrária ao reino da verdade. Daí brota a simplicidade. Os floreados constituem ofensa para o pensamento, a não ser que se empreguem como simples expediente para encobrir o vácuo da mentalidade do escritor. No real não há floreados; só há necessidades orgânicas. Não quer dizer que não haja na natureza nada de brilhante; mas nela o brilhante é também orgânico, sustentado por substruções que nunca falham.
Para a natureza, a flor é tão grave como o fruto, e a folhagem tão grave como o ramo; a árvore, que se firma na raiz, não faz mais do que manifestar o germe onde se esconde a idéia da espécie. Ora, o estilo, quando é de mão de mestre, imita as criações naturais. Uma frase, um trecho escrito devem ser como ramo vivo, como os filamentos da raiz, como a árvore. Nada de mais, nada ao lado, tudo na curva pura que vai do germe ao germe, do germe desabrochado no escritor ao germe que deve desabrochar no leitor e propagar a verdade ou a bondade humana. O estilo não é um fim; desvia-o e avilta-o o escritor que faz estilo só pelo estilo. Amesquinha a verdade quem só se apega à “ forma” , quem só é rimador em vez de ser poeta, estilista em vez de escritor. Quem possuir o gênio do estilo, deve levá-lo à perfeição, que é o direito de quanto existe. Todo escritor anseia ser mestre no estilo, como o ferreiro é mestre na forja. Ora, qual o ferreiro que se diverte em tornear volutas por prazer? O estilo exclui a inutilidade; é economia no seio da riqueza; gasta o que é preciso, poupa aqui, prodiga ali para a glória da verdade. O seu papel não é brilhar, mas fazer aparecer: quando ele se apega, é que a sua glória reluz. “ O belo corta o supérfluo” , dizia Miguel Angelo, e Delacroix releva neste artista “ os soberbos embutidos, as faces simples, os narizes sem minudências” . Mas nessa simplicidade não deve passar despercebida a firmeza de contornos, como em Miguel Angelo, em Leonardo e, sobretudo, em Velasquez, ao contrário do que sucede v. g. em Van Dyck, o que é ainda uma lição. Uma vez que determinastes um pensamento ou sentimento, expressai-o de sorte que todos vos compreendam, como convém a um homem que fala a outros homens e procura atingir neles o que direta ou indiretamente é órgão de verdade. “Um estilo completo é o que alcança todas as almas e todas as faculdades das almas” (1).
Não sejais escravos da moda. Dai água de nascente, não drogas de farmácia. Muitos escritores, hoje, criam sistemas: ora um sistema é algo do artificial e o artificial ofende a beleza. Cultivai a arte da omissão, da eliminação; da simplificação: eis o segredo da força, que os mestres não se cansam de repetir, como S. João Evangelista não se fartava de incular: “Amai-vos uns aos outros” . A lei e os profetas, em matéria de estilo, é a inocente nudez que revela o esplendor das formas vivas: pensamento, realidade, criações e manifestações do Verbo.
Infelizmente, é rara a inocência do espírito; quando existe, alia-se por vezes à nulidade. Por isso, só duas espécies de espíritos parecem predispostos para a simplicidade: os de pequena envergadura e os gênios; os restantes são obrigados a adquiri-la laboriosamente; incomoda-os a própria riqueza e não sabem reduzir-se.( 1) Emerson. Autobiographie, Edit. Régis Michaud, pag. 640, Paris, Colin.

A Vida Intelectual - Antonin-Gilbert Sertillanges

Mudança de planos

Atualizando: O Ancelmo Góis, do jornal O Globo, diz que Obama cancelou o discurso na Cinelândia. Segundo o colunista, o presidente popstar se "apresentará" no Theatro Municipal. Será que é por motivos de segurança, ou tem alguma relação com o voto brasileiro de ontem na ONU?

Aqui: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/03/18/ancelmo-gois-barack-obama-desiste-de-fazer-discurso-publico-na-cinelandia-924039410.asp

A era da estupidez

O objetivo secundário deste blog é demonstrar como a nossa cultura contemporânea está contaminada por fórmulas de raciocínio limitadas, ingênuas e pueris. Além de fornecer matéria-prima de qualidade para quem pretende estudar por conta própria, tenho interesse em observar, e tentar entender, a decadência cultural, moral e intelectual que a cada dia avança a passos largos em todo o planeta. 
Ando espantado com esta decadência, que começou há muito tempo, mas que nos dias que seguem acelera progressivamente, evidenciando que o caminho que seguimos agora certamente nos levará ao abismo.  Esta rápida contaminação pela estupidez não afeta apenas o cidadão médio, os trabalhadores e os estudantes. A burrice contemporânea contaminou principalmente os acadêmicos, a imprensa e as forças políticas que controlam os aparatos culturais e educacionais. 
Como se não bastassem a ignorância e os erros de interpretação da realidade e dos fatos históricos, o establishment científico, educacional e midiático se arroga um poder que não possui: o de definir, regular e proibir condutas que dizem respeito exclusivamente ao indivíduo.  Ou seja, não me importo com a burrice dos professores universitários e cientistas que nada percebem da realidade quando formulam suas teorias, minha preocupação começa quando estas teorias esdrúxulas e incompatíveis com a experiência começam a embasar atitudes mais sérias como legislar, condenar, proibir e prender. Pense nisso!

O conhecimento - Aristóteles

Por natureza, todos os homens desejam o conhecimento. Uma indicação disso é o valor que damos aos sentidos; pois além de sua utilidade, são valorizados por si mesmos e, acima de tudo, o da visão. Não apenas com vistas à ação, mas mesmo quando não se pretende ação alguma, preferimos a visão, em geral, a todos os outros sentidos. A razão disso é que a visão é, de todos eles, o que mais nos ajuda a conhecer coisas, revelando muitas diferenças.

Ora, os animais nascem por natureza com o poder da sensação, daí adquirindo alguns a faculdade da memória, enquanto outros não. Por conseguinte, os primeiros são mais inteligentes e capazes de aprender do que aqueles que não podem se lembrar. Aqueles que não ouvem sons (como a abelha ou qualquer criatura semelhante) são inteligentes, mas não conseguem aprender; só são capazes de aprender os que possuem esse sentido, além da faculdade da memória.

Assim, os outros animais vivem de impressões e memórias e só têm pequena parcela de experiências; mas a raça humana vive também de arte (techne) e raciocínio. É pela memória que os homens adquirem experiência, porque as inúmeras lembranças da mesma coisa produzem finalmente o efeito de uma experiência única. A experiência parece muito semelhante à ciência e à arte, mas na verdade é pela experiência que os homens adquirem ciência e arte; pois como diz Pólo com razão: “a experiência produz arte, mas a inexperiência produz o acaso”. A arte se produz quando, a partir de muitas noções da experiência, se forma m único juízo universal a respeito de objetos semelhantes. Julgar que quando Cálias estava sofrendo dessa ou daquela doença isso ou aquilo lhe fez bem, o mesmo acontecendo com Sócrates e vários outros indivíduos, é questão de experiência; mas julgar que a mesma coisa fez bem a todas as pessoas de certo tipo, consideradas como classe, que sofrem dessa ou daquela doença (por exemplo, os encatarrados ou bilioso que ardem em febre) é questão de arte.

Pareceria que para efeitos práticos a experiência não é de modo algum inferior à arte; com efeito, vemos homens de experiência tendo mais sucesso do que aqueles que possuem a teoria sem a experiência. A razão disso é que a experiência é conhecimento de coisas articulares, ao passo que arte trata de universais; e as ações e os efeitos que produzem se referem ao particular. Porque não é o homem que o médico cura, senão casualmente, e sim Cálias, Sócrates ou alguma outra pessoa que tem igualmente um nome e é por acaso também um homem. Assim, se um homem tem teoria sem experiência e conhece o universal, mas não o particular nele contido, com freqüência falha no seu tratamento, pois é o particular que deve ser tratado. No entanto, achamos que o conhecimento e a eficiência são antes questões de arte que de experiência e supomos que os artistas são mais sábios que os homens apenas experientes (o que implica que em todos os casos a sabedoria depende, sobretudo, do conhecimento), e isso porque aqueles conhecem a causa e estes não. Pois o homem de experiência conhece o fato, mas não o porquê, enquanto os artistas conhecem o porquê e a causa. Pela mesma razão estimamos mais os mestres de toda profissão e achamos que sabem mais e são mais sagazes que os artesãos, pois conhecem as razões das coisas produzidas; mas achamos que os artesãos, como certos tipos de objetos inanimados, fazem coisas sem saber o que estão fazendo (assim como o fogo queima, por exemplo); só que, enquanto os objetos inanimados desempenham todas as suas funções em virtude de certa qualidade natural, os artesãos realizam as suas por hábitos. Assim, os mestres são superiores em sabedoria não porque podem fazer coisas, mas porque possuem uma teoria e conhecem as causas.

Em geral, o sinal de conhecimento ou ignorância é a capacidade de ensinar e por essa razão achamos que a arte, e não a experiência, constitui conhecimento cientifico; porque os artistas podem ensinar e os outros, não. Além disso, não consideramos nenhum dos sentidos como sendo a Sabedoria. Eles são de fato nossas principais fontes de conhecimento sobre as coisas particulares, mas não nos dizem a razão de nada, como por exemplo, por que o fogo é quente, mas apenas que ele é quente.

É, portanto, provável que de início o inventor de qualquer arte que foi além das sensações ordinárias tenha sido admirado pelos companheiros, não apenas, porque algumas das suas invenções fossem úteis, mas como uma pessoa sábia e superior. E à medida que mais artes iam sendo descobertas, algumas ligadas às necessidades da vida e outras à recreação, os inventores destas últimas eram sempre considerados mais sábios que os daquelas, porque seus ramos de conhecimento não visavam a utilidade. Daí, quando todas as descobertas desse tipo haviam sido plenamente desenvolvidas, inventou-se as ciências que não se relacionam nem ao prazer nem às necessidades da vida, e primeiro naqueles lugares onde os homens gozavam de tempo livre. As ciências matemáticas surgiram na região do Egito, porque ali a classe sacerdotal tinha tempo disponível.

A diferença entre a arte e a ciência, de um lado, e as outras atividades mentais análogas, de outro, foi exposta na Ética; a razão da presente discussão é que geralmente se supõe que o que chamamos Sabedoria diz respeito às causas e princípios primeiros de modo que, como já vimos, o homem de experiência é considerado mais sábio do que os meros possuidores de uma faculdade sensível qualquer, o artista mais do que o homem de experiência, o mestre mais do que o artesão e as ciências especulativas mais doutas do que as práticas. Assim, está claro que a Sabedoria é o conhecimento de certas causas e princípios.   

Metafísica - Aristóteles

Obituário da Imprensa

Um amigo acaba de lançar um blog sensacional. Diariamente ele escolhe algumas manchetes que encontra nos sites de notícias da Internet brasileira. Apenas destaca a manchete e a imagem utilizadas pelo noticiário, sem nenhuma interferência – e com link ou print-screen comprobatório. Com muita ironia, ele mostra como nossa imprensa realmente morreu!  E não estamos falando de revistas de fofoca ou publicações para adolescentes, as fontes usadas pelo blog são os portais dos grandes jornais, das redes de TV e das empresas de telefonia.
Uma rápida olhada na home de um portal é suficiente para perceber que quase todo espaço nobre da página é dedicado a futilidades, fuxicos e notícias absolutamente inúteis e muitas vezes constrangedoras, a ponto de despertarem “vergonha alheia” em um adulto razoavelmente sensato.  Ou seja, nem é preciso vasculhar, na verdade o Deu Hoje tem que filtrar o excesso de informação.
Visite o Deu Hoje e veja a seleção de “Notícias que não fariam falta a ninguém”:

O foco

Como eu já disse nos posts anteriores, a principal função deste blog será organizar conteúdo de utilidade para quem pretende estudar e, ao mesmo tempo, oferecer um relato da experiência do aprendizado. Além de ajudar os autodidatas e os curiosos, espero que o blog ajude a ordenar também os meus pensamentos. 

Não será possível deixar de lado, no entanto, a acelerada degradação da cultura, a inversão dos valores e a apocalíptica decadência da inteligência média. A burrice, a vulgaridade, a futilidade e outras patologias contemporâneas serão tratadas aqui, não apenas como contraponto à busca do conhecimento, mas também como comprovação da urgência em acordar as pessoas - mesmo que seja apenas uma - e tirá-las do caminho que as levará ao abismo.  

O sábio e a Verdade

Alguns textos contém tanta sabedoria, que em apenas um trecho é possível aprender mais do que em anos de estudo. O primeiro capítulo da Súmula Contra os Gentios de São Tomás de Aquino, que usei no post anterior, comprova o que estou dizendo. Uma análise do pensamento de Aristóteles sobre a busca da sabedoria, um objetivo que já foi muito nobre e que hoje se confunde com a busca pelo diploma que garante um emprego - nem mesmo um trabalho, mas um emprego. Neste pequeno texto de 3 ou 4 laudas o mais sábio dos santos e mais santo dos sábios resume e expande o pensamento daquele que chamava de O Filósofo. Em O ofício do sábio, o sábio italiano ordena o pensamento do sábio grego e nos mostra que ordenar o pensamento é o dever dos que buscam entender a realidade e conhecer a Verdade.

Este texto retirado da Súmula Contra os Gentios serve perfeitamente para ilustrar uma das funções que pretendo dar a este blog: ser um ponto de apoio, um organizador de conteúdo útil para quem busca a Verdade e, ao mesmo tempo, um relato da experiência do aprendizado. Porque foi o próprio Jesus Cristo que disse: Eu sou o Caminho, e a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. (João 14:6)

Seguindo o que mandou o Mestre e citando mais uma vez o santo sábio, neste blog a Verdade será o fim último de todo o universo, e a grande preocupação primária da sabedoria consistirá no estudo desta Verdade.

O ofício do sábio - Santo Tomás de Aquino

O uso comum que, no entender do Filósofo (Aristóteles), deve ser seguido quando se trata de dar nome às coisas (Tópicos, II, 1, 5), manda que se chamem sábios aqueles que organizam diretamente as coisas e presidem ao seu reto governo. Entre outras idéias, o Filósofo afirma que "o ofício do sábio é colocar ordem nas coisas" (I Metafísica, II, 3). Ora, todos quantos têm o ofício de ordenar as coisas em função de uma meta devem haurir desta meta a regra do seu governo e da ordem que criam, uma vez que todo ser só ocupa o seu devido lugar quando é devidamente ordenado ao seu fim, já que o fim constitui o bem de todas as coisas.
Assim também acontece no setor das artes. Constatamos, efetivamente, que uma arte. detentora de um fim, desempenha em relação a uma outra arte o papel de reguladora e. por assim dizer, de princípio. A medicina, por exemplo, preside à farmacologia e a regula, pelo fato de que a saúde, que é o objeto da medicina, constitui a meta ou o objetivo de todos os remédios cuja composição compete à farmacologia.
O mesmo acontece com a arte de pilotar, com respeito à arte de construir navios, e com a arte da guerra, com respeito à cavalaria e aos fornecimentos militares. Estas artes, que presidem a outras, chamamo-las arquitetônicas ou artes principais, e os que se dedicam a elas, e que denominamos arquitetos, fazem jus ao nome de sábios.
Todavia, sendo que tais profissionais tratam dos fins em áreas particulares, e não atingem o fim último e universal de todas as coisas, denominamo-los sábios nesta ou naquela área, do mesmo modo como São Paulo Apóstolo afirma "ter colocado os fundamentos como um sábio arquiteto" (1 Cor 3, 12). O nome de sábio, pura e simplesmente, isto é. no sentido estrito do termo, está reservado àqueles que tomam por objeto de sua reflexão o fim ou a meta do universo, que constitui ao mesmo tempo o princípio de tudo. É neste sentido que, para o Filósofo, o ofício do sábio é o estudo das causas mais altas (I Metafísica, I. 12).
Ora, o fim último de cada coisa é o que é visado pelo seu primeiro Autor e causa motora. E o primeiro Autor e causa motora do universo é uma inteligência, como veremos mais adiante. Por conseguinte, o fim supremo do universo é o bem da inteligência. Este bem consiste na verdade. Conseqüentemente, a verdade será o fim último de todo o universo, e a grande preocupação primária da sabedoria consistirá no estudo desta verdade. Aliás, foi para manifestar a verdade que a divina Sabedoria, depois de ter revestido a nossa carne humana, declara ter vindo a este mundo: "Nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade" (Evangelho de São João, capítulo 18, versículo 37). A seu turno, o Filósofo declara que a Primeira Filosofia é a ciência da verdade: não de qualquer verdade, mas daquela verdade que constitui a fonte de toda verdade e propriedade do princípio primário do ser de todas as coisas que existem. Esta verdade é o princípio de toda verdade, já que o estabelecimento dos seres na verdade vai de par em par com o seu estabelecimento no ser (primeiro livro da Metafísica, I. 4. 5).
Ora, é próprio de um e mesmo sujeito cultivar um dos elementos contrários e refutar ou rejeitar o outro. Assim, por exemplo, a medicina, que é a arte de restaurar a saúde, é também a arte de combater as enfermidades. Por conseguinte, assim como o oficio do sábio é meditar sobre a verdade, sobretudo a partir do primeiro princípio, e dissertar sobre as outras coisas, da mesma forma compete-lhe combater contra os erros contrários à verdade.
Este duplo ofício do sábio está exposto com perfeição pela Sabedoria, nas palavras que citamos ao início deste capítulo: o sentido do mencionado versículo é dizer a verdade divina, que é a verdade por excelência e por antonomásia: "Minha boca meditará sobre a verdade". E o sentido do outro versículo ("Meus lábios maldirão o ímpio") é: combater contra o erro que se opõe à verdade. Este último versículo designa o erro que se opõe à verdade divina, erro que é contrário à religião, sendo que esta última recebe também o nome de piedade, o que explica por que o erro contrário recebe o nome de impiedade.
Súmula Contra os Gentios - Santo Tomás de Aquino

Mais algumas coisas

Continuando o último post, quero deixar claro que o blog Ordem Natural é pessoal, independente e não tem o objetivo de provar nada para ninguém, apenas de ajudar os estudantes interessados em conhecer a realidade e buscar a Verdade em todas as situações. Outra questão importante diz respeito à originalidade do que será escrito aqui. A princípio citarei o autor sempre que usar uma frase, um conceito ou uma figura de linguagem, mas certamente usarei idéias, teses e pensamentos de terceiros incorporados em meu texto, pois foi precisamente com esses autores que eu aprendi. Portanto, se encontrar pensamentos, definições e conceitos que pertencem a Olavo de Carvalho, Padre Paulo Ricardo, Aristóteles, Platão, Sócrates, Evágrio Pôntico, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Victor Frankl, Dinesh D’Souza, Louis Lavelle, Santo Alberto Magno, Eric Voegelin, Santo Anselmo, C.S.Lewis, Ludwig Von Mises, Ortega y Gasset, Mário Ferreira dos Santos, Thomas Woods ou a qualquer autor da Bíblia, saiba que não se trata de plágio, mas sim de aprendizado.

O lugar do homem na escala da perfeição dos seres - Santo Agostinho

Eis o que quero te explicar agora: o que põe o homem acima dos animais, seja qual for o nome com que designemos tal faculdade, seja mente ou espírito, ou com mais propriedade um e outro indistintamente, devemos reconhecer, que os animais podem ver, entender e sentir os objetos corporais, por meio do olfato, do gosto, do tato e, frequentemente, porque encontramos esses dois vocábulos também nos Livros Sagrados – quando pois esse elemento superior domina no homem e comanda a todos os outros elementos que o constituem, ele encontra-se perfeitamente ordenado. Com efeito, vemos que temos muitos elementos comuns, não somente com os animais, mas também com as árvores e plantas, tais como: ingerir alimento, crescer, gerar, fortificar-se. Vemos que todas essas propriedades são concedidas igualmente às árvores, as quais pertencem a um grau bem ínfimo, entre os seres vivos. Constatamos ainda, e com mais penetração do que nós. Além do que há neles força, vigor, solidez dos membros, rapidez e grande agilidade de movimentos corporais. Em tudo isso, nós somos superiores a alguns deles, iguais a outros e, a vários dentre eles, inferiores. Sem dúvida, possuímos natureza genérica comum com os animais. Entretanto, a busca dos prazeres do corpo e a fuga dos dissabores constituem atividade da vida animal. Há ainda outras propriedades que não parecem convir aos animais, sem que, todavia sejam no homem as mais perfeitas, como, por exemplo, divertir-se e rir. Por certo, são expressões características do homem, mas as menos importantes, no julgamento de quem julga a natureza humana. Vem a seguir, o amor aos elogios e à glória e o desejo de dominar, tendências essas que também não pertencem aos animais. Contudo, não devemos nos julgar melhores do que eles, por possuirmos essas paixões. Pois tais inclinações, ao se revoltarem contra a razão, nos tornam infortunados. Ora, ninguém jamais se pretendeu superior a outros, por sua miséria. Por conseguinte, só quando a razão domina a todos os movimentos da alma, o homem deve se dizer perfeitamente ordenado. Porque não se pode falar de ordem justa, sequer simplesmente de ordem, onde as coisas melhores estão subordinadas às menos boas. Acaso não te parece ser assim?

Então, quando a razão, a mente ou o espírito governa os movimentos irracionais da alma, é que está a dominar na verdade no homem aquilo que precisamente deve dominar, em virtude daquela lei que
reconhecemos como sendo a lei eterna.

O Livre Arbítrio - Santo Agostinho

Antes de começar

O blog Ordem Natural foi criado há muito tempo, com a intenção de expor minhas observações sobre algumas teses equivocadas que, mesmo diante das evidências e provas contrárias, continuam a influenciar a chamada opinião pública. Sendo mais específico, pretendia demonstrar como hábitos, valores e até leis estão sendo criados ou modificados levando em conta teorias improváveis, sustentadas por argumentos desprovidos de lógica e até de racionalidade.

Naquela época fiz apenas uma postagem e nem cheguei a entrar no assunto. Dias depois, em uma aula do Seminário de Filosofia do Olavo de Carvalho aprendi que antes de entrar na discussão deveria estudar mais. Deletei a postagem e deixei o blog parado. Para não dizer que não fiz nenhuma postagem, publiquei um trecho inspirador do Loius Lavelle e um vídeo sobre a Filosofia da Liberdade, que agora está em um lugar mais nobre. 

Com o blog parado, guardei muita indignação por todo esse tempo, apenas chateando os mais próximos. Não foi fácil, afinal foram mais de 3 anos de avanço desenfreado da estupidez.

Diante da angústia de se dividir entre o ímpeto e a prudência, encontrei uma solução conciliadora. Resolvi transformar o blog em uma grande estante, onde se pode encontrar as informações e as fontes que vão facilitar o caminho de quem pretende entender a realidade e se aproximar da Verdade.

Como continuarei estudando eternamente, as postagens devem me ajudar a organizar melhor as informações e a ordenar melhor minhas idéias. Por isso, mesmo que o blog tenha apenas 1 leitor, já estarei satisfeito.